quarta-feira, 16 de junho de 2010


 
Escorados apenas na ponta das pálpebras, que vergam como folhas de junquilho. Meus olhos estão se pondo. Apoiei-me  nas costas do tempo, como se pudesse aparar a neve que me cobre as feições. Não sinto mais frio. Afrouxo os nós, desamarro os cadarços, fico descalça.  Preciso serenar, assoprando ao vento os meus porquês. Por que não ouve o meu silêncio, se dentro de você ele faz um escândalo em voz alta? E você continua andando pelos campos de concentração emocional, como se não estivesse me escutando. Heróis de verdade, não deixam feridos para trás. Eu não pretendo ficar muda, mas essa distância faz de nós, estátuas de cinza. Nossos pés carregam passos de despedida, mas deixam um rastro rubro na memória, arrastando todas as lembranças que encontra pelo caminho. Superioridade. Separação. Segredo.  Somos assim. Corações anoitecidos só com o gosto de sonho na boca.  Sustentados apenas por vasos rijos serrilhados em forquilhas. Eu não vou passar, mas você vai. E vou acompanhá-lo até que eu não encontre em você nenhuma magia. Me entrego aos caminhos e me confundo com o vento. Deixo voar os pontos finais, cedendo lugar às reticências. Nunca me dei bem com definitividades. A maneira como suportamos o vazio é o que determina se merecemos que ele se encha.

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