quarta-feira, 23 de junho de 2010

E continuou a nevar todos os dias daquela semana, até que uma tarde a chuva se recolheu e o sol se abriu. Uma silhueta de luz perfilava as colinas, cobrindo as sombras com uma muralha invisível. Despalpebrava o crepúsculo. E o calor derreteu a tempestade em pó, ressuscitando minhas asas de gelatina. Minhas asas não haviam secado, embora estivessem sepultadas a um palmo de neve. Me descongelo então. E me deixo voar, sem medo de me estilhaçar do infinito outra vez. É bonito sentir as coisas. Especialmente as que você não pode mais tocar. Tem noites, em que meu coração fala dormindo, em sonhos. Mas ninguém o escuta. Minha janela ainda está batendo os dentes, à espera de não sei mais que. Sobre ela, um passarinho que quase não canta, tapa seus olhos com as mãos, como se minha solidão o ferisse. Mas é assim quando se perde um amor. A gente perde também o poder de ave. Todavia, ninguém pássaro tem culpa de cair das alturas, quando é guilhotinado pelo vento. É preciso emplumar as asas, arfando os vazios. Quando menos se espera, bem de mansinho, lá longe, do alto onde os pássaros se encontram. A tristeza bate as asas, e se perde aos olhos da gente.

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